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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Entrevista - Ricardo Garanhani


Balé, escultura e carnaval

Três meses antes do carnaval, a vida do paranaense Ricardo Garanhani muda completamente. Ele para de dançar no Balé Teatro Guaíra, deixa de lado o trabalho como cenógrafo nos bastidores para se preocupar apenas com a criação do carnaval da Mocidade Azul, vencedora do desfile das escolas de samba de Curitiba em 2011. Essa dedicação acontece há três anos. Antes disso, passava os carnavais no Rio de Janeiro. Depois de 15 anos, ele trocou a grande festa carioca pelo mais modesto carnaval curitibano. O primeiro trabalho para a Mocidade Azul, em 2010, foi uma escultura gigante de um leão, o símbolo da escola. É isso mesmo. Aos 47 anos, além de bailarino e cenógrafo, o também carnavalesco é artista plástico. E pretende se dedicar a escultura depois que parar de dançar, atividade que realiza há 19 anos.


Balé combina com carnaval?

Combina, e muito. O Joãosinho Trinta era bailarino do Teatro Municipal, longe de
querer me comparar. Ele é meu ídolo. No Rio, a participação da classe artística é comum.
Aqui, aos poucos, estou chamando meus amigos para desfilar. E acredito que existe hora para tudo.
Tem hora para balé, tem hora para concerto, tem hora para carnaval.


A classe artística tem aceitado participar? 

Os meus colegas do Balé Guaíra participam como voluntários na hora de criar a
coreografia da comissão de frente, e quem ensaia é o Leandro Vieira, também do
Balé. A classe artística é superaberta, mas falta as pessoas convidarem.


Como você se aproximou do carnaval?

Sou um apaixonado pelo carnaval há muito tempo. Desde 1980 ia assistir aos desfiles
no Rio de Janeiro e acabava desfilando. Até o dia em que decidi que queria mais; queria
participar do processo. Aí comecei a trabalhar na Imperatriz Leopoldinense ao lado de
mais 1.500 pessoas. A carnavalesca Rosa Magalhães me convidou. Nos conhecemos
na época em que ela vinha fazer cenografia em Curitiba. Sempre me falava para ir para
lá. Até que resolvi passar um final de semana com uma mochila debaixo do braço e acabei
ficando dois meses. Só levei chinelo, bermuda e uma camiseta. Vivi a vida de operário
do samba. Lavava a camiseta e, naquele calor, ela secava na hora e eu já usava. Mas não
via a praia. Só trabalhava. Sem problemas, porque a cidade do samba é uma festa.


Foi difícil a decisão de deixar o carnaval carioca para
passar a fazer parte do carnaval curitibano?

Lá no Rio eu trabalhava como mão-de-obra. O carnaval da escola já estava criado, desenhado.
Aqui na Mocidade Azul, como carnavalesco, sou responsável pela parte visual. Tenho a
oportunidade de criar o enredo e acompanhar todo o processo. Já estou no terceiro
ano desse trabalho. Gostei muito de acompanhar o retorno da escola em 2010, depois de
ela permanecer três anos sem desfilar. É muito trabalho, muita loucura, mas vale a pena.
A vitória no ano passado foi demais!




O que você acha que determinou a vitória da escola?

Inventamos estratégias para a coisa acontecer. Como fazer uma fantasia grande, que
resista a mais de uma hora de desfile e apareça na avenida? A pergunta ficou martelando
 na minha cabeça... sabia que não tínhamos dinheiro para usar estrutura de metal, como no Rio.
Passamos a trabalhar com espuma, bambolê... Gente de teatro é ótima para inventar coisas,
 e o carnaval é um grande teatro.


Como lidar com as comparações feitas com o Rio de Janeiro?

O ser humano é comparativo. O Rio é uma grande referência, virou uma indústria. Dentro
das nossas limitações tento criar uma coisa que seja a nossa cara. Existe um folclore de se
falar muito mal do carnaval daqui. Eu tenho noção da simplicidade. Dentro disso fazemos um
carnaval muito bom. Para mudar a nossa realidade, as pessoas têm que participar.


É possível repetir algumas fórmulas do Rio?

Ano passado tentei vender fantasias por R$30. Não deu certo. Aqui a escola dá a fantasia
para os integrantes. Não existe tradição de venda como lá. Seria bom se houvesse porque
 isso ajudaria a resolver nossos problemas de infraestrutura.


Quais as novidades para este ano?

Vamos comemorar os 40 anos da Mocidade Azul. A Roseli Miranda, que foi a primeira
porta-bandeira da escola, vai abrir o desfile. Tem muito mais, mas ainda não posso contar.

Você sente saudade do Rio?

Estou tranquilo de estar aqui porque contribuo muito mais. Lá tem gente de sobra para trabalhar.
 Cresci muito nessa cidade. Não conhecia esse meio em Curitiba, a tradição, a história.
Adoro achar respostas para as charadas das nossas limitações. E não adianta só criar, fazer os desenhos das fantasias;
tem que botar a mão na massa. Aliás, gosto de fazer isso. Prefiro isso a organizar, mandar...
 Adoraria ter um patrão. Obedecer é bem mais fácil (rs).


Fonte: Guia Cultural Oficial da Cidade nº 56
Carnavais de Curitiba - Fevereiro 2012
 Fundação Cultural de Curitiba

                                                                                                        Foto: Keilla Santiago

                                                                                                                   

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